terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Amor a Toda Prova (nota 8)

"O Amor", grande inspiração para incontáveis comédias ou dramédias românticas. São tantas produções nesse estilo, quase idênticas entre si, que fica até difícil separar uma ou outra por alguma qualidade específica. É raro algum cineasta se aventurar a mudar a forma padrão desse tipo de filme, em parte por culpa do público mais casual que consome muito esse estilo de filme quadradinho dentro de um território muito conhecido e seguro. Mas felizmente, de vez em quando alguém tem a coragem de se aventurar, nem que seja um pouco fora da fórmula padrão, nos brindando com ótimos filmes que sabem divertir e emocionar, e ainda entregar um produto com ar de inovada criatividade. É o caso de um filme que adoro e sempre referencio aqui, o 500 Dias com Ela, e agora também é o caso de Amor a Toda Prova (Crazy, Stupid, Love, título original).
Cal e Emily Weaver (Steve Carell e Juliane Moore) são um casal que deixou a relação chegar num ponto de total estagnação. Ela trai ele e pede o divórcio. Ele sai de casa, mergulha em bares para afogar às mágoas e acaba encontrando em Jacob Palmer (Ryan Gosling) um mentor para retornar à ativa. Jacob, um pegador infalível, dá um banho de loja e ensina Cal os caminhos para se tornar um mulherengo, mesmo que ele ainda tenha sentimentos por Emily. Enquanto isso, seu filho Robbie também enfrenta um problema amoroso, pois está apaixonado por sua babá Jessica. Paralelamente acompanhamos a jovem advogada Hannah (Emma Stone), que espera um pedido de casamento de seu colega de trabalho.
A descrição acima parece padrão para todos os filmes de dramédia romântica, mas acreditem, ela não faz jus ao desenvolvimento do filme, que não posso contar mais senão estraga. O que posso dizer é que o filme conta com diálogos ótimos, sem situações estranhamente forçadas. As situações cômicas são muito boas, sem piadas bobas, exceto por um momento mais pastelão próximo ao final, mas que continua divertindo. Além disso, temos também momentos bem emocionantes, mas sem apelar para o dramalhão exagerado. Todas as situações apresentadas, sejam as engraçadas ou emotivas, são muito reais, pé no chão, fazendo o espectador se aproximar dos personagens ou até se identificar com eles. A única ressalva fica por conta da grande convergência de histórias ao final, que sai um pouco dessa realidade, mas não deixa de se encaixar muito bem no enredo, completando o filme.

Mas uma das principais forças do longa, além do bom roteiro, é o ótimo elenco reunido, que a primeira vista parece não combinar. Porém a química entre todos os atores está muito boa, tornando as situações e diálogos ainda mais interessante. Mesmo Steve Carell com sua eterna cara de bobo sabe mandar bem nas cenas emotivas, algo que ele já tinha provado no ótimoPequena Miss Sunshine, mas também sabe levar a comédia na medida correta, sem exageros. 
Uma ótima pedida para quem procura um entretenimento fácil, divertido e emocionante. Mas a melhor impressão que fica é a de uma injeção de criatividade dentro de um gênero tão batido e previsível.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

As Aventuras de Tintim (nota 10)

Eu gostaria de começar esta crítica com um grande agradecimento ao Sr. Spilberg e ao Sr. Jackson, que mesmo com todas as dificuldades e previsões negativas de público nos EUA (que infelizmente se concretizaram), tiveram culhões para levar às telas do cinema um personagem praticamente desconhecido no território americano, porém muito querido e cultuado em outras partes do mundo, incluindo o Brasil. Se não fosse a persistência de Steven Spilberg e Peter Jackson em produzir / dirigir esta animação, que foi planejada como a primeira parte de três e espero que as fracas bilheterias americanas não estraguem isso, perderíamos uma das experiências mais divertidas e satisfatórias do cinema atual. Como apreciador de cinema diversão, e como fã de longa data dos quadrinhos de Tintim, não consegui conter um enorme sorriso que estampou meu rosto durante toda a projeção e mesmo horas depois do filme terminar. Soma-se a isso uma sensação de nostalgia, pois Tintim foi meu primeiro contato com o mundo dos quadrinhos quando ainda era muito novo, graças ao meu pai, que tinha uma grande coleção dos livros e os lia para mim.
Para aqueles que não conhecem a criação de Hergé, Tintim é um jovem repórter investigativo belga com gosto por aventuras exóticas e perigosas. Ele e seu fiel cão Milu, aliados a diversos personagens igualmente carismáticos, se aventuram por todos os cantos do mundo em diversos livros / álbuns / quadrinhos, em busca de matérias e reportagens. Dois desses livros foram usados para construir o enredo do filme, e eles são O Segredo do Licorne e O Caranguejo das Tenazes de Ouro, sendo neste segundo que Tintim conhece seu grande amigo, o Capitão Haddock. Não podemos esquecer da presença sempre engraçada dos policiais da Interpol, Dupond e Dupont. Mas a linha principal do enredo é mais baseada na busca pelos segredos do naufrágio do Licorne, um navio naufragado com um tesouro inestimável.
O filme é brilhante. É um cinemão pipoca divertido que só Spilperg sabe fazer, ou sabia pelo menos mas andou esquecendo. É uma aventura frenética de tirar o fôlego nos mesmos moldes de Indiana Jones e Jurassic Park, por exemplo. Existem sequências longas de ação, perseguição, brigas e tiroteio sem cortes que ficam ainda mais incríveis graças às possibilidades infinitas da animação de criar ângulos de filmagem não convencionais. Uma das últimas sequências é de cair o queixo, tem tanta coisa acontecendo simultaneamente na tela e a câmera não para nunca de seguir a ação de perto sem cortar sequer uma vez. Genial! O humor muito presente nos quadrinhos, que por vezes beira o pastelão físico, respeita muito o material original e funciona muito bem na tela, proporcionando várias risadas.
E por falar em animação, a escolha pela técnica de animação com captura de movimentos (a mesma utilizada em Avatar) não poderia ter sido mais acertada. Não creio que o resultado ficaria tão incrível numa filmagem convencional com atores reais. E mesmo com a computação gráfica, muitos dos traços originais do desenho de Hergé foram respeitados. Logo no início do filme uma grande homenagem é prestada ao criador do universo de Tintim, e outra homenagem na abertura é feita também ao ótimo desenho animado que adapta os livros, exibido por muitos aos pela TV Cultura. Por falar nesse desenho, eu fui ver a versão legendada com o som original, porém me arrependi de não ter ido ver a versão dublada, que conta com os mesmos ótimos dubladores do desenho animado. Digo isso por vários motivos, um deles é que alguns nomes foram alterados para nomes ingleses, o que deixa a cabeça meio confusa quando queremos prestar mais atenção nas belas imagens sem ler as legendas.
O elenco foi bem escolhido para a captura de movimentos e dublagem americana. Jamie Bell faz bem o Tintim, e a dupla do ótimo Shawn of the Dead, Simon Pegg e Nick Frost, faz os atrapalhados Dupond e Dupont, e Daniel Craig entrega um vilão padrão. Agora, o verdadeiro astro da captura de movimento, Andy Serkis, dá show como Cap. Haddock, e não só nos movimentos como também na voz. Mas ainda me arrependo de não ter conferido no cinema a versão dublada.
Outro fator que pode chamar muita gente ao cinema é o 3D. É difícil ver um filme do filão principal no cinema hoje em dia que não seja lançado em 3D, na mesma proporção que é difícil ver um filme produzido com qualidade em 3D, e não somente com a intenção de arrancar mais alguns trocados com o ingresso mais caro. E é claro que um cineasta experiente e respeitado como Splilberg não iria se utilizar da técnica somente para ficar arremessando objetos na cara do espectador. Ele trabalha muito bem tanto os objetos próximos quando a profundidade, mas também sabe brincar com certos ângulos estranhos que, com a adição da profundidade, criam cenas interessantíssimas, que em outro caso seriam simples.
Fica aí minha crítica de fã do personagem, e agora do filme. Eu gostei muito, me diverti muito e não consegui desgrudar os olhos da tela um segundo sequer, não só pelo sentimento de nostalgia que ele proporciona, mas também por ser um excelente entretenimento. Agora o momento desabafo: como diabos esse filme, que acabou de ganhar o prêmio de melhor animação no Globo de Ouro, ficou fora dos indicados de melhor animação do Óscar? A academia está de brincadeira, não é a toa que cada vez menos pessoas assistem à premiação cada vez mais chata.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Piratas do Caribe

No ano passado escrevi aqui a crítica do quarto filme da série, mas faltava ainda falar de toda a primeira trilogia que arrecadou milhões de dólares para o cofre da Disney. E pensar que o projeto foi quase abandonado pois ninguém acreditava que um filme sobre piratas ainda poderia dar certo e atrair público, ainda mais um baseado numa atração temática do parque Magic Kingdon da Disney. Os números de bilheteria são tão impressionantes, mas fazem jus à qualidade dos filmes? Os três primeiros filmes juntos somaram quase 2,7 bilhões de dólares no mundo todo, e somando-se a impressionante bilheteria do quarto capítulo das aventuras de Jack Sparrow, auxiliado pelo preço mais caro das seções em 3D, chegamos a quase absurdos 3,8 bilhões de dólares em bilheteria no mundo todo para os cofres da Disney. É muita grana!


Mas a verdade é que, quando mais o filme arrecadava, pior era a qualidade geral e consequentemente menor a diversão do espectador. Apesar do divertido personagem Jack Sparrow, brilhantemente criado pelo versátil Johnny Depp, ganhar cada vez mais destaque (merecido) lembrando que ele nem é o personagem principal do primeiro filme, fica a impressão que os escritores e produtores acham que bastava colocá-lo na tela para o público apreciar o filme, ignorando cada vez mais os roteiros interessantes e coerentes. Mesmo com todas essas as falhas, nasceu uma nova franquia que continuará atraindo e divertindo milhares de pessoas nos cinemas.



Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra (nota 10)


Este filme chegou de mancinho, sem fazer muito barulho e foi conquistando o público aos poucos. Nele somos apresentados ao casal principal formado por Will Turner (Orlando Bloom, recém saído de Senhor dos Anéis) e Elisabeth Swann (a até então desconhecida Keira Knightley), cujo romance irá mover boa parte da trama da trilogia toda. Conhecemos também um dos principais, senão principal personagem do cinema nos anos 2000, o bizarro Cap. Jack Sparrow, cujo estilo e trejeitos foram inteiramente criados por Johnny Depp num momento de inspiração genial, que segundo confirmação do próprio Depp, foi fortemente inspirado no guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards.



Também conhecemos um dos melhores vilões do cinema de aventura atual, o Cap. Barbosa, em excelente interpretação do sempre eficiente Geoffrey Rush, que parece estar se divertindo muito no papel. Barbosa e Sparrow, como bons piratas, deste momento em diante nunca perdem a chance de tentar se matar para tomar controle do veloz navio negro, o Pérola Negra, cuja tripulação amaldiçoada porcura a solução para o seu problema, e esbarra na jovem Elisabeth. Para salvá-la, Will se junta a Sparrow, seguindo o caminho de seu pai para se tornar também um pirata.


Mas por que o filme é tão bom? Simples, além de ter personagens carismáticos e ótimo vilão, o roteiro é muito acertado e diverte muito. Além disso o humor presente agrada na medida certa, sem recorrer ao pastelão. A cena que aparece Sparrow pela primeira vez, todo "imponente" no seu minúsculo bote furado já dá o tom das risadas que se seguirão. E não podemos esquecer das ótimas cenas de ação, muitos duelos de espadas, cenas de perseguição, e efeitos especiais perfeitos. A transformação dos piratas amaldiçoados nas criaturas mortas é de cair o queixo e até hoje, ainda me impressiono com o duelo final entre Sparrow e Barbosa, quando eles passam por feixes de luz causando transformações instantâneas, sem nunca interromper a ação.


O filme acaba com uma conclusão boa, sem deixar ganchos para uma continuação, mas deixando em todos aquele gostinho de "quero mais". Então, já que todos queriam mais, inclusive os bolsos dos executivos, foi planejada uma trilogia, o que nos garantia mais dois filmes pela frente.


Piratas do Caribe - O Baú da Morte (nota 8)

Tudo que o roteiro da primeira parte tinha de acertado e fechado, foi abandonado para a produção dos próximos dois capítulos. Este, o Baú da Morte, foi planejado para ser a primeira parte do que seria concluído no terceiro filme, uma espécie de Império Contra-Ataca, então já fomos aos cinemas sabendo que não veríamos a conclusão deste do arco de histórias iniciado neste filme. O problema é que, com a pressa de lançarem o filme a produção e as filmagens começaram antes do roteiro estar pronto, o que prejudicou demais a série, não tanto neste filme, mais no terceiro.


O longa começa com Will Turner preso por ajudar Sparrow, Elisabeth abandonada no altar e Sparrow saindo de dentro de um caixão jogado ao mar, remando com o pé do esqueleto para fugir com um estranho pergaminho. Mais tarde descobrimos que Sparrow está com problema com Davy Jones, pois deve sua alma ao vilão, e acaba envolvendo Will em suas tramóias para escapar da morte. Nisso, Will descobre seu pai entre as almas aprisionadas no Holandês Voador, o navio de Jones, e promete vingança. Soma-se a isso a presença da Companhia das Índias Orientais querendo acabar com todos os piratas e temos um enredo bagunçado, cheio de reviravoltas e traições e muita confusão na cabeça do espectador.


Apesar do roteiro bagunçado, o filme consegue manter o bom ritmo no humor e na ação que vimos na primeira parte, com Sparrow ganhando muito mais destaque e tempo de tela, o que era natural de se esperar após as reações ao personagem do público. Além disso, com a ausência de Barbosa o posto de vilão ficou a cargo de Davy Jones, que manteve o mesmo nível e não decepcionou, sendo um ótimo vilão, só que muito mais assustador. Muito bem interpretado pelo britânico Bill Nighy, debaixo de toneladas de maquiagem digital, o rosto cheio de tentáculos funcionou muito bem, conseguindo transparecer as reações faciais do ator. Novamente os efeitos especiais de ponta ajudando a criar um mundo fantástico para se contar uma história, seja no vilão principal como também em seus muitos lacaios.


Então ao final sobram muitas pontas soltas, um personagem importante morto e outro trazido de volta dos mortos. Tudo ajudou a aguçar a curiosidade de todos para a terceira e final parte, o que foi crucial para aumentar a decepção com a conclusão.


Piratas do Caribe - No Fim do Mundo (nota 5)
Se no segundo filme o enredo começa a ficar confuso, aqui ele termina de embaralhar e parar de fazer sentido. Foram criadas soluções para os problemas criados pelos roteiristas, soluções mágicas, absurdas e que extrapolam até o nível de fantasia criada até então na série, fazem o espectador começara  perder o interesse pelo filme logo de cara. Uma longa e desnecessária cena em Cingapura demora demais para se concluir, e o mundo dos mortos onde Sparrow se encontra é bizarro demais e sem sentido. O público queria tanto ver Jack Sparrow que foram colocados 10 dele em cena simultaneamente na tela.


Mas o enrolado roteiro consegue fazer tantas reviravoltas, são tantas traições e alianças feitas e desfeitas, que chega um momento que fica impossível saber quem está do lado de quem. Pra piorar a situação o humor já não consegue manter o mesmo nível dos filmes anteriores, sejam com piadas sem graça ou fora do tempo. E alguém pode me explicar por que simplesmente se livraram do Kraken sem nem ao menos uma explicação ou batalha para mostrar o que houve? Depois de todas as críticas negativas, só resta falar bem da ação, que pelo menos continuou muito boa, mas atingindo níveis megalomaníacos comparados a Michael Bay. A batalha final no redemoinho é de tirar o fôlego, e novamente muito bem feita pelos efeitos especiais.



Depois de longuíssimas e cansativas 2:50h e exibição (poderia ter sido bem mais curto), e com este arco de historia fechado, ainda somos brindados com uma possibilidade de continuação, que veio no quarto filme, iniciando uma nova fase de histórias para Jack Sparrow. Fica a pena de um ótimo começo de franquia ter se perdido tanto a ponto de criar um filme como este terceiro, que considero ser o pior dos quatro lançados até hoje. Espero que para os próximos os erros aprendidos não sejam cometidos novamente, mas infelizmente a quarta parte não mostrou grande melhoria. Nos resta torcer.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A Lenda dos Guardiões (nota 8)

Esta aí uma grata surpresa! Um filme que não me chamou nenhuma atenção na época do seu lançamento nos cinemas, mas que, após vários elogios de críticos, me despertou curiosidade maior. E quando peguei o filme começando na tv à cabo numa tarde de domingo, resolvi dar uma chance e conferi a animação com corujas dirigida por Zach Snyder, e não me arrependi, me divertindo muito com as corujas guerreiras. O único problema é que o filme parece sofrer de crise de identidade, não sabendo muito bem para qual o público ele deveria ser direcionado.
Digo isso pois, a princípio, julga-se tratar de um filme infanto-juvenil, pois afinal estamos falando de um universo onde os heróis e vilões são animais, em sua grande maioria formada por corujas de várias espécies. Mas logo isso é feito de forma estranha, pois não animais com feições ou trejeitos humanos. Todos os animais representados se movem e utilizam seus membros das formas mais realistas possíveis, não espere ver penas parecendo dedos. Até mesmo os picos sofrem pouquíssimas alterações para se adequarem às expressões faciais, que aí sim se assemelham levemente às humanas. Resumindo, o tratamento foi muito similar ao dado em Happy Feet, o que me agradou bastante nos dois casos. Tudo isso soma para subir um pouco a faixa etária que irá apreciar o longa.
Além disso temos muito da tradicional jornada do herói, presente em tantas outras histórias. A jovem coruja Soren, separada dos pais se vê em problemas quando é capturada por corujas que obrigam outras a trabalho escravo, mas consegue fugir para procurar a ajuda dos lendários Guardiões da Árvore de Ga'Hoole, cujas histórias eram contadas a ele por seu pai. Lá ele vai treinar e aprender a lutar com os guardiões, tendo como principal mentor a coruja esquisitona Ezylryb. Outra coisa que achei estranha na primeira vez que vi o trailer, mas fez todo o sentido durante o filme, foi ver as armaduras e armas de combate das corujas, formada principalmente por mascaras, capacetes e garras metálicas. As cenas de batalha por vezes, mesmo sem mostrar sequer uma gota de sangue, mostram situações muito mais sérias do que se esperaria de um filme como esse. Eu particularmente gostei bastante, mas recomendo cautela aos pais desavisados.
Mas se não fosse suficiente a ótima história e os personagens carismáticos e cativantes para conquistar o espectador desavisado, o visual espetacular termina o serviço e faz cair o queixo. Os cenários são lindos, e as cenas de vôo das corujas por paisagens belíssimas são suficiente para encantar qualquer um. E visto em alta definição ficam ainda mais impressionantes e vívidas as imagens. Segam durante os belos e velozes vôos de treinamento, ou durante as complicadas batalhas, com direito a muita câmera lenta no melhor estilo Zach Snyder. A animação das corujas está perfeita, cada pena tem seu próprio movimento, e a integração com as armaduras de batalha ficou muito estilosa.
Com um elenco de vozes recheado de atores conhecidos, na sua maioria australianos e britânicos, como Hugo Weaving, Jim Strugess, Geoffrey Rush, Sam Neil e Helen Mirren, as vozes combinam bem com os personagens, de forma discreta, sem ser algo que chama mais a atenção do que a ação do filme em si. O visual é mais hipnotizado do que a música incidental, que cumpre bem o trabalho mas não se destaca.
Como já escrevi acima, o filme sofre um pouco por parecer ser para a criançada, mas também parecer ser feito mais para os adultos. Por esse motivo existe o perigo de ambos os lados ficarem longe e perderem de ver uma ótima e divertida animação, com belíssimas imagens e algumas das cenas de vôo mais incríveis que lembro de ter visto no cinema nos últimos tempos.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Contágio (nota 9)

Se preparem para lavar as mãos a cada 15 segundos após ver esse filme, que retrata um começo de fim de mundo muito possível e assustador. Aqueles com mania de limpeza vão ficar com medo de encostar em qualquer superfície desconhecida. Mas calma, não é só isso que o filme traz para o espectador, ele entrega também um roteiro bem amarrado, ótimos personagens e muito pé no chão no desenvolvimento do enredo, que criam uma experiência realista, assustadora, empolgante e  intrigante. Em certos momentos me lembrou muito Ensaio Sobre a Cegueira, mas menos deprimente.
O que aconteceria num mundo globalizado, integrado e super populoso como o atual quando uma doença altamente infecciosa e mortal, tanto por via aérea quanto tátil, começa a se espalhar e matar milhares de pessoas em diversos países? Conhecemos esse mundo do ponto de vista de diversas pessoas, em diversas escalas da sociedade. Temos o casal suburbano com a visão do povão, mostrando o pânico geral que aflige a população, temos os pesquisadores em laboratório na busca desesperada por vacinas, os investigadores de campo, sofrendo os problemas da doença na busca por mais informações, a imprensa sensacionalista que só ajuda a piorar a situação, e os engravatados do governo, tentando conter de toda forma a contaminação que se espalha pelo mundo todo.
Os enquadramentos escolhidos pelo diretor Steven Sodeberg são ótimos. Diversas vezes a câmera se fixa em detalhes mundanos, como um aperto de mãos, uma maçaneta de porta, um celular, entre outras coisas, o que ajuda a construir no espectador uma paranóia e aversão a qualquer tipo de possibilidade de contágio. Além disso, o roteiro não descamba para nenhum tipo de sentimentalismo ou heroísmo desnecessário, cada personagem age dentro da sua esfera social correta, e se vira da forma que pode dentro deste cenário desesperador. Além de tudo isso, um ótimo elenco com nomes de peso como Gwyneth Paltrow, Matt Damon, Laurence Fishburn, Jude Law, Marion Cotillard e Kate Winslet só ajuda o entretenimento.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Gigantes de Aço (nota 7)

Muitos podem achar o filme clichê só de ver o trailer e já saberem tudo o que esperar do filme. Isso está parcialmente certo, mas como aprendemos em Matrix (isso sim é uso barato de citação filosófica), existe uma diferença entre conhecer o caminho e trilhar o caminho. Por mais que logo de cara seja possível adivinhar o desfecho do filme, acompanhar os acontecimentos que levam a este desfecho é muito divertido, graças à uma boa direção, bons atores e interação entre personagens, e por que não à carnificina mecânica entre os robôs?
Num futuro próximo o boxe entre humanos perdeu totalmente a graça e foi substituído por combates entre robôs. Charlie Kenton (Hugh Jackman) é um ex-pugilista canalhão fracassado que vive de lutas clandestinas com seus robôs sucateados. Quando sua ex-mulher falece, ele se vê na obrigação de cuidar do filho de onze anos, Max Kenton, com quem nunca teve contato. Após mais uma derrota humilhante eles param num ferro velho e encontram um velho robô descartado, que Max recupera e quer colocar para lutar, pois também compartilha da paixão pela luta de seu pai.
Fica claro que teremos a história da redenção de Charlie como pai, mas ela acontece de forma muito honesta, sem forçadas e com emoção na medida certa. Isso acompanhado de histórias de lutas de boxe, que sempre tem uma lição de superação do indivíduo, pontencializam os momentos emocionais do filme, mas sem nunca virar choradeira, em parte graças ao espírito mais canalha de Charlie que demora muito para ser vencido. Só uma coisa me incomodou: queria entender como uma criança de onze anos sabe tanto de eletrônica tão avançada para fazer o que fez na recuperação de seu robô Átomo, mas é melhor relevar esse tipo de coisa em favor do entretenimento.
A interação entre pai e filho é muito boa, e a química entre os atores funciona muito bem na tela. Hugh Jackman está ótimo como o ex-pugilista canalha ganancioso e quebrado. O jovem Max é uma figura, e a forma como ele brinca com o gigante Átomo nos faz crer que aquele robô é um ser vivo. E os contrutos digitais estão ótimos, muito realistas, com lutas muito bem coreografadas e emocionantes. Um ótimo filme para conferir em casa, entretenimento simples e divertido.

Caça às Bruxas (nota 2)

Nicolas Cage é um caso à parte. Está bem claro pra mim que ele se diverte muito fazendo filmes, qualquer filme. Então ele não se importa muito com a qualidade do filme, ele simplesmente quer se divertir na frente das câmeras. Então imagino que qualquer merda de roteiro que jogam no colo dele, ele topa fazer sem nem ler, então para cada um papel bom que ele aceita, tem pelo menos dez dessas tranqueiras. E este filme é mais uma dessas tranqueiras.

Mas vou explicar minha revolta: quando um filme como Adrenalina, que é uma bobagem gigante, mas sabe rir de si próprio, ou seja, a arte de fazer uma tosqueira sabendo que está fazendo uma tosqueira sem se levar à sério demais, isso sim é louvável e gera filmes estranhos porém divertidos e engraçados. Mas quando um filme tem aquela cara de ser muito mais sério, mas causa risos involuntários e simplesmente não funciona, isso é destrói o filme. Por exemplo, aqui os personagens de Nicolas Cage e Ron Perlman conversam durante uma batalha sangrenta no meio das cruzadas como se fossem dois amigos batendo um papinho no bar. Os diálogos e o linguajar usado, assim como o sarcasmo excessivo, não combinam com o filme.
As cenas de ação são fracas e em closes muito apertados, provavelmente para esconder o baixo número de extras nas batalhas de campo, e a mudança de idéia e aceitação da missão pelo personagem principal é tão rápida e boba, que se você piscar na hora errada é capaz de perder. Uma historinha mequetrefe, previsível e nada empolgante. Enfim, não percam tempo com isso, até o Aprendiz de Feiticeiro é mais divertido e entretém melhor do que esta bomba.

Sem Limites (nota 8)

Quem olha para a ilustração genérica da caixa na estante da locadora pode achar que se trata de um filmeco qualquer sem muitas pretensões, pelo menos foi o que eu achei. A surpresa pelo ótimo filme que me pegou só fez melhorar a experiência de ver este ótimo suspense, intrigante e inteligente, que ainda utiliza efeitos visuais de câmera vertiginosos que não são mera perfumaria, mas completam e integram o enredo de forma perfeita.
Um rápido resumo do enredo: Eddie Morra, interpretado pelo cada vez mais presente Bradley Cooper, é um aspirante a escritor que não consegue escrever e está à beira de perder tudo. Quando um ex-cunhado o encontra na rua e oferece uma droga capaz de liberar todo o potencial do cérebro de uma pessoa, ele aceita a droga e sua vida muda. A super inteligencia extra faz com que sua vida mude da água pro vinho. Mas como nada vem de graça nessa vida, logo ele começa a ter que lidar com as consequências disso, que vão desde agiotas gângsters russos à polícia. Todos os acontecimentos são muito bem amarrados, com alguns pequenos furos de roteiro como coincidências absurdas, mas nada que estrague a experiência.
O visual utilizado para representar esse acendimento do cérebro de Morra é incrível. A paleta de cores passa de um tom azul mais frio para tons mais vermelhos e quentes, e a velocidade do pensamento representada por um movimento vertiginoso contínuo para frente são recursos muito bem utilizados e compõe muito bem o filme. Além disso as viradas no enredo proporcionadas pelo bom roteiro são ótimas e intrigantes. A atuação de Bradley Cooper está muito boa, provando que pode fazer mais do que comédia ou ação. Até Robert De Niro (que vem atuando no automático já faz algum tempo), num papel pequeno, entrega uma boa atuação. Uma ótima pedida para quem gosta de um bom suspense.

Cowboys & Aliens (nota 5)

Quando sabe que existe um filme (baseado numa revista em quadrinhos) que mistura os cowboys do velho oeste com aliens vindos do espaço, qual é a primeira coisa que vem à sua cabeça? Bom, na minha veio: Show! Não tem como ser ruim isso! Mas infelizmente eu estava errado, e um filme que poderia ser muito divertido ficou chato. Não me empolgou nada e tive que brigar para não dormir o filme inteiro. Uma pena, aparantemente Jon Favreau sabe fazer filmes bons como Homem de Ferro somente quando tem bons roteiros em mãos.
O que dá ainda mais desgosto é o fato do primeiro terço de filme ser muito bom. Todo trecho entre Jake Lonergan acordar com amnésia no meio do deserto até o primeiro ataque alienígena é um western puro, com direito a todos os personagens típicos desse cenário. E os atores em cena deixam tudo ainda melhor, com Daniel Craig, Olivia Wilde, Sam Rockwell e ninguém menos do que Harrison "Han Solo" Ford como o rancheiro milionário que manda na cidade. Os problemas começam logo após esse primeiro ataque, e não digo isso sobre os problemas que os personagens terão que enfrentar, mas sim os problemas de roteiro que os espectadores terão que engolir para chegar até o final.
Começa com a aceitação muito rápida dos personagens sobre o que está acontecendo. E a caçada pelos aliens que sequestraram seus entes queridos é desastrosa, com inúmeros desvios de caminho que incluem bandidos e índios que aparecem do nada, culminando em um combate muito fraco ao final do filme. Os motivos que levam o personagem principal pra frente são muito fracos e muitas vezes esquecidos. Ou seja, os dois terços finais do filme são uma confusão só que nos faz perder e esquecer o caminho que estava sendo trilhado até a próxima interrupção desnecessária.
O que salva são algumas cenas de ação bem coreografadas, a bela fotografia do oeste americano, e a presença de Harrison Ford voltando a fazer filmes de ação num personagem novo, porém num filme que não consegue empolgar por culpa de um roteiro muito ruim. Pena.