No ano passado escrevi aqui a crítica do quarto filme da série, mas faltava ainda falar de toda a primeira trilogia que arrecadou milhões de dólares para o cofre da Disney. E pensar que o projeto foi quase abandonado pois ninguém acreditava que um filme sobre piratas ainda poderia dar certo e atrair público, ainda mais um baseado numa atração temática do parque Magic Kingdon da Disney. Os números de bilheteria são tão impressionantes, mas fazem jus à qualidade dos filmes? Os três primeiros filmes juntos somaram quase 2,7 bilhões de dólares no mundo todo, e somando-se a impressionante bilheteria do quarto capítulo das aventuras de Jack Sparrow, auxiliado pelo preço mais caro das seções em 3D, chegamos a quase absurdos 3,8 bilhões de dólares em bilheteria no mundo todo para os cofres da Disney. É muita grana!
Mas a verdade é que, quando mais o filme arrecadava, pior era a qualidade geral e consequentemente menor a diversão do espectador. Apesar do divertido personagem Jack Sparrow, brilhantemente criado pelo versátil Johnny Depp, ganhar cada vez mais destaque (merecido) lembrando que ele nem é o personagem principal do primeiro filme, fica a impressão que os escritores e produtores acham que bastava colocá-lo na tela para o público apreciar o filme, ignorando cada vez mais os roteiros interessantes e coerentes. Mesmo com todas essas as falhas, nasceu uma nova franquia que continuará atraindo e divertindo milhares de pessoas nos cinemas.
Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra (nota 10)
Este filme chegou de mancinho, sem fazer muito barulho e foi conquistando o público aos poucos. Nele somos apresentados ao casal principal formado por Will Turner (Orlando Bloom, recém saído de Senhor dos Anéis) e Elisabeth Swann (a até então desconhecida Keira Knightley), cujo romance irá mover boa parte da trama da trilogia toda. Conhecemos também um dos principais, senão principal personagem do cinema nos anos 2000, o bizarro Cap. Jack Sparrow, cujo estilo e trejeitos foram inteiramente criados por Johnny Depp num momento de inspiração genial, que segundo confirmação do próprio Depp, foi fortemente inspirado no guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards.
Também conhecemos um dos melhores vilões do cinema de aventura atual, o Cap. Barbosa, em excelente interpretação do sempre eficiente Geoffrey Rush, que parece estar se divertindo muito no papel. Barbosa e Sparrow, como bons piratas, deste momento em diante nunca perdem a chance de tentar se matar para tomar controle do veloz navio negro, o Pérola Negra, cuja tripulação amaldiçoada porcura a solução para o seu problema, e esbarra na jovem Elisabeth. Para salvá-la, Will se junta a Sparrow, seguindo o caminho de seu pai para se tornar também um pirata.
Mas por que o filme é tão bom? Simples, além de ter personagens carismáticos e ótimo vilão, o roteiro é muito acertado e diverte muito. Além disso o humor presente agrada na medida certa, sem recorrer ao pastelão. A cena que aparece Sparrow pela primeira vez, todo "imponente" no seu minúsculo bote furado já dá o tom das risadas que se seguirão. E não podemos esquecer das ótimas cenas de ação, muitos duelos de espadas, cenas de perseguição, e efeitos especiais perfeitos. A transformação dos piratas amaldiçoados nas criaturas mortas é de cair o queixo e até hoje, ainda me impressiono com o duelo final entre Sparrow e Barbosa, quando eles passam por feixes de luz causando transformações instantâneas, sem nunca interromper a ação.
O filme acaba com uma conclusão boa, sem deixar ganchos para uma continuação, mas deixando em todos aquele gostinho de "quero mais". Então, já que todos queriam mais, inclusive os bolsos dos executivos, foi planejada uma trilogia, o que nos garantia mais dois filmes pela frente.
Piratas do Caribe - O Baú da Morte (nota 8)
Tudo que o roteiro da primeira parte tinha de acertado e fechado, foi abandonado para a produção dos próximos dois capítulos. Este, o Baú da Morte, foi planejado para ser a primeira parte do que seria concluído no terceiro filme, uma espécie de Império Contra-Ataca, então já fomos aos cinemas sabendo que não veríamos a conclusão deste do arco de histórias iniciado neste filme. O problema é que, com a pressa de lançarem o filme a produção e as filmagens começaram antes do roteiro estar pronto, o que prejudicou demais a série, não tanto neste filme, mais no terceiro.
O longa começa com Will Turner preso por ajudar Sparrow, Elisabeth abandonada no altar e Sparrow saindo de dentro de um caixão jogado ao mar, remando com o pé do esqueleto para fugir com um estranho pergaminho. Mais tarde descobrimos que Sparrow está com problema com Davy Jones, pois deve sua alma ao vilão, e acaba envolvendo Will em suas tramóias para escapar da morte. Nisso, Will descobre seu pai entre as almas aprisionadas no Holandês Voador, o navio de Jones, e promete vingança. Soma-se a isso a presença da Companhia das Índias Orientais querendo acabar com todos os piratas e temos um enredo bagunçado, cheio de reviravoltas e traições e muita confusão na cabeça do espectador.
Apesar do roteiro bagunçado, o filme consegue manter o bom ritmo no humor e na ação que vimos na primeira parte, com Sparrow ganhando muito mais destaque e tempo de tela, o que era natural de se esperar após as reações ao personagem do público. Além disso, com a ausência de Barbosa o posto de vilão ficou a cargo de Davy Jones, que manteve o mesmo nível e não decepcionou, sendo um ótimo vilão, só que muito mais assustador. Muito bem interpretado pelo britânico Bill Nighy, debaixo de toneladas de maquiagem digital, o rosto cheio de tentáculos funcionou muito bem, conseguindo transparecer as reações faciais do ator. Novamente os efeitos especiais de ponta ajudando a criar um mundo fantástico para se contar uma história, seja no vilão principal como também em seus muitos lacaios.
Então ao final sobram muitas pontas soltas, um personagem importante morto e outro trazido de volta dos mortos. Tudo ajudou a aguçar a curiosidade de todos para a terceira e final parte, o que foi crucial para aumentar a decepção com a conclusão.
Piratas do Caribe - No Fim do Mundo (nota 5)
Se no segundo filme o enredo começa a ficar confuso, aqui ele termina de embaralhar e parar de fazer sentido. Foram criadas soluções para os problemas criados pelos roteiristas, soluções mágicas, absurdas e que extrapolam até o nível de fantasia criada até então na série, fazem o espectador começara perder o interesse pelo filme logo de cara. Uma longa e desnecessária cena em Cingapura demora demais para se concluir, e o mundo dos mortos onde Sparrow se encontra é bizarro demais e sem sentido. O público queria tanto ver Jack Sparrow que foram colocados 10 dele em cena simultaneamente na tela.
Mas o enrolado roteiro consegue fazer tantas reviravoltas, são tantas traições e alianças feitas e desfeitas, que chega um momento que fica impossível saber quem está do lado de quem. Pra piorar a situação o humor já não consegue manter o mesmo nível dos filmes anteriores, sejam com piadas sem graça ou fora do tempo. E alguém pode me explicar por que simplesmente se livraram do Kraken sem nem ao menos uma explicação ou batalha para mostrar o que houve? Depois de todas as críticas negativas, só resta falar bem da ação, que pelo menos continuou muito boa, mas atingindo níveis megalomaníacos comparados a Michael Bay. A batalha final no redemoinho é de tirar o fôlego, e novamente muito bem feita pelos efeitos especiais.
Depois de longuíssimas e cansativas 2:50h e exibição (poderia ter sido bem mais curto), e com este arco de historia fechado, ainda somos brindados com uma possibilidade de continuação, que veio no quarto filme, iniciando uma nova fase de histórias para Jack Sparrow. Fica a pena de um ótimo começo de franquia ter se perdido tanto a ponto de criar um filme como este terceiro, que considero ser o pior dos quatro lançados até hoje. Espero que para os próximos os erros aprendidos não sejam cometidos novamente, mas infelizmente a quarta parte não mostrou grande melhoria. Nos resta torcer.
Um comentário:
Apoiado! Johnny Depp é um gênio! O nome do navio do Capitão Jack Sparrow é muito bom: Pérola Negra. É um clássico!
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