terça-feira, 30 de outubro de 2012

007 – Skyfall (nota 9)


Sempre fui fã dos filmes do agente britânico com licença para matar. Vi todos os filmes com todos os atores e conheço toda a mitologia do herói. E confesso que estava ficando bem cansado da mesmice que cercava as aventuras de James Bond ao final da era Pierce Brosnan. Por isso, adorei Cassino Royale, era o filme que o 007 precisava para se reerguer na atualidade como um personagem relevante. Já com Quantum of Solace, o medo de velhas fórmulas voltarem a aparecer, aliada a modas hollywoodianas (boa parte culpa de Jason Bourne), tornaram o segundo longa com Daniel Craig um filme bem genérico e sem nenhuma relevância. Felizmente, graças a um ótimo roteiro, um ótimo elenco e um ótimo diretor, Skyfall não tem nada de genérico, e antes de ser um excelente filme de 007, é um baita filme de ação e espionagem.


Pra começar, estava mais do que na hora de colocarem o espião nas mãos talentosas de algum diretor de “marca”. Apesar de eu não ser muito fã dos filmes “mundo cão” de Sam Mendes, não há como não reconhecer a qualidade do diretor, e o estilo imposto por ele em Skyfall caiu como uma luva em James Bond, e trouxe uma bem vinda mudança de ares à série que, por muito tempo nas mãos de diretores genéricos de ação, precisava de uma mudança. A fotografia de certas cenas ficaram impressionantes, como por exemplo a luta nos arranha céus de Shanghai, com os personagens no escuro e apenas os luminosos no fundo.


Outro fator que me agradou muito também foi o roteiro tratar de um assunto mais contido. Já deu no saco as tramoias megalomaníacas de conquista mundial, desta vez quem está em risco é o próprio MI-6. Além disso, o enredo trás ótimas reviravoltas, além de tratar muito bem seu personagem principal, dando muito mais carisma e bagagem emocional a James Bond. Aqui certamente temos a melhor versão do personagem da trilogia feita por Daniel Craig, que não decepciona. Os diálogos entre Bond e M, ou Bond e o novo Q, e ainda mais com o vilao são incríveis. É claro que, como de costume, o espião viaja por todo o planeta, em locais incríveis e exóticos.


Mas o que seria do herói sem seu antagonista? E novamente o filme nos surpreende com outro excelente personagem, o vilão Silva, em mais uma excelente interpretação de Javier Bardem. Ele consegue ser estranhamente hilário, tirando risos da plateia com sua afetação meio afeminada, mas seus estratagemas brilhantes conseguem enganar a todos de forma genial. Está certo, posso concordar que seus planos são perfeitos demais para serem críveis, até bem parecidos com os do Coringa em Cavaleiro das Trevas, mas no envolvimento do filme é impossível ficar achando defeito nisso.


É interessante que o filme fica a todo momento fazendo comparações entre o novo e o velho, e com isso faz muitas referências e homenagens aos longas antigos desta cine série que completa 50 anos nas telonas. Os fãs de longa data do agente secreto irão vibrar com as referências e aparições, e certamente irão gostar muito deste longa.


TED (nota 8)


Depois de um longo período afastado das críticas de cinema, finalmente estou de volta. A culpa disso é principalmente de uma preguiça absurda, mas também devido ao meu envolvimento em um novo projeto junto com a Ju relacionado ao site dela, o Passaporte Orlando. Em breve novidades. Mas chega de papo e vamos ao que interessa. Ted é um filme que eu queria muito ver, por ser um grande fã das séries animadas Family Guy e American Dad, frutos da mente doentia e genial de Seth MacFarlane. Em certos pontos o filme é tudo o que alguém com o senso de humor meio alterado (me incluo nesses) poderia esperar, mas em outros peca feio por tentar se adequa a formulas tradicionais, mas no geral o saldo é bem positivo.


Aqueles que já conhecem o tipo de humor de Seth MacFarlane, devem ter uma boa ideia do que irão encontrar pela frente. O humor imperdoável, politicamente incorreto ao extremo, não perdoa ninguém, nenhum grupo, religião, etnia, e por aí vai. E as piadas são muitas e são geniais, mesmo as que recorrem a uma boa dose de baixaria e palavrões. Além das muitas auto referências (em certos momentos o ursinho Ted imita a voz de certos personagens do Family Guy, dublados pelo próprio MacFarlane), como um bom nerd, não faltam referências a cultura pop americana em geral. Acho provável que muitos brasileiros não entendam algumas das piadas com referências muito atuais, o que pode prejudicar um pouco a diversão para alguns. Sei que fazia muito tempo que eu não gargalhava tanto e tão alto numa sala de cinema.


O problema do filme ao meu ver foi a necessidade de tentar encaixá-lo numa estrutura meio padronizada de roteiros hollywoodianos de comédias. Não sei se isso foi alguma imposição do estúdio, ou foi algo necessário para possibilitar a realização do filme, mas isso acabou deixando o último terço de filme muito fraco comparado com o restante. A inclusão de um vilão muito fraco quebrou demais o ritmo da comédia, e se não fossem os primeiros dois terços hilários, não passaria de uma comédia mediana.


O casal principal está ótimo, Mark Wahlberg e Mila Kunis estão bem a vontade para encarar as bizarrices do roteiro, e a interação de ambos com o urso Ted, dublado por MacFarlane, é tão natural que esquecemos que o urso é um ser digital. A narração do Patrick Stewart, o eterno Cap. Picard e colaborador tradicional de MacFarlane, só ajuda. E sem estragar a surpresa, a participação rápida e silenciosa de Ryan Reynolds é de rolar de rir. Não faltam bons motivos para dar muita risada, mas é necessário um senso de humor menos restrito para apreciar na íntegra.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Apenas Uma Vez (nota 10)


É raro um filme me emocionar e me impressionar a ponto de eu ficar por dias pensando nele. Também é raro eu aceitar ver um filme que foge do padrão “cinemão pipoca”, o que sei que é um erro muito grande meu. As vezes, como no caso de Drive, o resultado confirma que não é minha praia tentar ver filmes independentes de circuitos alternativos, mas felizmente existem casos como o de Apenas Uma Vez, um emocionante romance musical irlandês. E isso graças à Ju, que sempre me acusa de escolher filmes ruins, que descobriu esta pérola.


O roteiro é bem simples, e não é o que realmente importa neste filme. Um músico de rua conhece uma imigrante tcheca que também tem habilidades musicais. O relacionamento dos dois floresce com a cooperação de ambos através da música. Estes personagens, que nunca sabemos os nomes, são tão reais, tão carismáticos, que é impossível não nos sentirmos cativados por suas histórias. Quando digo que o roteiro não importa, é que parece que a câmera está simplesmente acompanhando os dois, de forma intimista, deixando que acompanhemos o desenrolar desta complicada relação.


Mas temos que falar do principal personagem do filme, a música. Na essência, o filme é um musical, mas não do tipo Broadway. A música impulsiona o filme para frente, mas por que expressa constantemente os sentimentos dos personagens e contam uma história muito pessoal de cada um. São canções belíssimas, incrivelmente sensíveis e emotivas, e os atores/músicos as interpretam com uma intensidade contagiante, colocando suas almas em cada nota. Quando acaba o filme, cada canção fica grudada na nossa mente, e me peguei cantarolando alguns versos durante dias, e querendo ter a trilha sonora para ouvir mais vezes.


Não foi a toa que uma das excelentes músicas foi a vencedora do Oscar de 2008. E essa emoção toda na interpretação destas músicas não poderia ser diferente, pois os atores principais na verdade são músicos de verdade, e eles próprios compuseram todas as canções que ouvimos no filme. Quem tem Netflix em casa, aproveite para conferir este filme com alma, que infelizmente só estará disponível no sistema até dia 01/09.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

13 Assassinos (nota 8)

Fazia muito tempo que eu estava com vontade de ver um bom filme de samurai. O último que me lembro de ter visto foi o ótimo Zatoichi de 2003. Quando conferi o trailer deste 13 Assassinos, imaginei que minha busca estaria no fim, e não fiquei decepcionado. O longa japonês entrega tudo que é esperado, e com muita qualidade. Desde o tradicional comportamento dos samurais japoneses, com sua honra e devoção ao dever inabalável, até as sangrentas batalhas de espada, tudo isso embalado em um belíssimo ambiente natural, e uma tradicional trilha sonora.

As comparações com o clássico Os 7 Samurais de Akira Kurosawa são inevitáveis. Alguns críticos estão até colocando isso como um demérito, porém eu não acho que estas similaridades sejam ruins, afinal o produto final é muito bom, além de ter um feeling mais atual, apesar de se tratar de um filme de época. O enredo é simples: Shinzaemon Shimada, um samurai honrado e respeitado, é incumbido de uma missão que vai contra os mandamentos do samurai de proteger seu senhor, que é assassinar o cruel Lorde Naritsugu, o degenerado irmão do atual Xogum e próximo na fila para assumir o xogunato. Como legalmente não podem evitar que uma pessoa tão cruel quanto Naritsugu, que mata e mutila seus criados por diversão, chegue ao poder, Shimada é destituído de seu título, e junta outros 12 leais samurais para planejar o assassinato do Lorde.

O ritmo do filme é interessante. Mesmo sendo meio longo, são 2:20h de duração, na primeira hora e meia acompanhamos num passo mais lento toda a preparação para o ataque. Neste momento acompanhamos o modo de vida tradicional japonês, com o sempre respeitoso tratamento entre classes, sejam serventes e lordes, ou mestres e aprendizes. Mas na última hora, prepare-se para muita ação de tirar o fôlego, com direito a muito combate de espadas e muito sangue voando na tela, no melhor estilo tarantinesco. Apesar do tom sério durante boa parte do filme, temos um pequeno alívio cônico com o morador da montanha que se junta ao grupo de assassinos durante sua jornada, e um único momento de bizarrice sexual japonesa.

Gostei muito do filme. Tanto durante o retrato da sociedade tradicional japonesa, quanto durante as empolgantes cenas de ação e combate. Mas saibam que se trata de um filme japonês, que tem seu ritmo e estilo de edição próprio, o que pode desagradar a princípio os que tem mais apego ao cinema americano.

Juan de los Muertos (nota 7)

O que acham de um filme cubano de baixo orçamento que mostra uma invasão de zumbis em Havana? Pode parecer uma receita para o desastre, mas o filme é genialmente engraçado. É uma comédia de humor muito, mas muito deturpado, que cai bem dentro do que me agrada em comédias estranhas. E podem ficar tranquilos, não se trata de uma cópia do genial Shaw of the Dead, brilhante comédia inglesa com o mesmo tema, apesar das similaridades dos nomes. Juan de los Muertos tem uma personalidade toda própria, e nunca achei que eu riria tanto de zumbis, quer dizer dissidentes, atacando um país de terceiro mundo.

O slogan do “negócio” de Juan já resume bem o estilo de humor que permeia todo o filme. Como um bom latino, Juan vê nesta crise uma oportunidade de ganhar dinheiro, e inicia a “Juan dos Mortos, matamos seus entes queridos para você”. As piadas são de vários tipos, desde as mais escrachadas, como quando Juan dança salsa com um zumbi algemado ao próprio braço, passando pelas políticas (durante todo o filme os zumbis são referidos como dissidentes capitalistas imperialistas enviados pelos EUA), chegando nas mais negras, quando pessoas saudáveis são mortas por engano.

Não tem muito mais o que escrever. O filme é totalmente desapegado de qualquer realidade e senso crítico, e faz piada até com a morte iminente de entes queridos. Não é um estilo de humor que pode agradar a qualquer um, mas certamente me agradou muito, e rendeu ótimas risadas em alto e bom volume.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Anjos da Lei (nota 8)


Existem ótimas comédias “sérias” que conseguem divertir muito, como é o exemplo do recente Intocáveis. Existem as comédias “involuntárias”, que são filmes que deveriam ser sérios, mas são tão ruins que só resta dar risada, como é o caso do Sequestro no Espaço, por exemplo. Porém, as melhores comédias, aquelas que o espectador fica com a barriga doendo de tanto rir, são aquelas que sabem não se levar a sério demais, e vão até as últimas consequências mais absurdas para causar risos. Felizmente em Anjos da Lei, uma readaptação do seriado homônimo oitentista, soube não querer ser muito fiel ao tema original, resultando uma das melhores comédias dos últimos anos.


O enredo trata de colocar dois policiais recém formados na academia em um programa de infiltração em colegiais, em busca de pistas sobre distribuição de uma nova droga. Schmidt, o nerd (Jonah Hill, que também assina o roteiro) e Jenko, o atleta (Channing Tatum), que eram colegas de colégio mas como de costume não se davam muito bem, e acabam se tornando amigos durante a academia de polícia e são os escolhidos para essa missão, tendo que fingir serem adolescentes e se readaptar ao colegial. A princípio parece que será mais uma daquelas típicas comédias adolescentes americanas, mas para a grata surpresa de todos, os preconceitos tradicionais do gênero logo são destruídos, atualizando e muito bem a tradicional fauna de colegial americano.


O humor é excelente. Rápido, e em muitas vezes completamente absurdo, com algumas pitadas de vergonha alheia, lembra um amálgama dos bons momentos de comédias como Superbad, Saturday Night Live e The Office. A ótima interação entre os personagens principais é ajuda muito, por exemplo na bizarra cena da primeira prisão a dupla. Os momentos de esporro recheado de palavrões, cortesia do Capitão Dickson (Ice Cube) são geniais. O final do filme se rende ao tiroteio de filmes de ação, mas mesmo assim, as piadas continuam rolando soltas.


Se em um ponto ruim a criticar é que no terço final do filme o ritmo das piadas dá uma boa reduzida, pois o tradicional momento da separação e reconciliação presente em quase todos os filmes também está aqui. Felizmente o final recupera o ritmo. De qualquer forma, vale muito conferir para dar boas risadas.

Uma Manhã Gloriosa (nota 7)


Está aí um exemplo de comédia romântica que consegue fugir um pouco da regra geral deste gênero tão pouco inventivo. Os tradicionais clichés ainda estão presentes, mas estão tão bem disfarçados que quase passam desapercebidos. Já explico um pouco melhor isso. O que importa é que o filme consegue ser muito agradável e leve, um entretenimento fácil e descompromissado, que deve agradar muito aos apreciadores deste gênero. E pra ajudar tem a presença sempre adorável da Rachel McAdams.


Becky Fuller (Rachel McAdams) é uma produtora de um jornal matinal local, uma workaholic, que é contratada com para tentar revitalizar um programa matinal falido em uma grande emissora, o Daybreak. Para isso ela vai ter que lidar com os egos dos âncoras Colloen Peck (Diane Keaton) e o renomado repórter que claramente não quer estar ali, Mike Pomeroy (Harrison Ford, aparentemente interpretando a si próprio). Depois de muito tentar entrar no jogo dos dois, Becky começa a fazer o impossível para aumentar a audiência. As situações cômicas são boas, nada muito forçado, mas também não vai fazer você rolar de rir. Tudo está na medida certa.


Quando escrevi que o filme foge um pouco dos clichés do gênero, é por causa de qual relacionamento é colocado sob o holofote. É claro que existe um interesse romântico para Becky, mas o relacionamento que realmente aflora, se degenera e retorna é entre Becky e Pomeroy, pois o repórter experiente é um tipo de ídolo caído aos olhos de Becky, que o idolatra. O relacionamento discutido no filme não é amoroso, mas é sim profissional e/ou uma amizade. Isso faz o filme se destacar da média e ser notado. Vale a pena ser conferido.


Drive (nota 5)


Com este filme eu cometi um erro que já me prometi que não cometeria de novo. Ver um filme premiado no festival de Cannes. Eu quis arriscar e crer que com este seria diferente, afinal um filme sobre um motorista de fuga, deve pelo menos ter ótimas cenas de ação e perseguição de carros. Mas novamente me arrependi e pra ajudar tive que aguentar a Ju me pentelhando pela escolha. Esse filme entra naquela categoria que até é bom, mas é muito, muito chato.


O grande problema é que o filme começa muito bem. Logo na abertura temos uma cena de fuga, que não é emocionante pela velocidade, mas é uma fuga tática, tensa, com poucos momentos de alta velocidade. Com isso, fiquei imaginando que veria muito mais daquilo deste ponto em diante, mas durante a próxima hora de filme, tudo que vemos é um arrastado e monótono relacionamento do personagem principal com sua vizinha e seu filho. A quase total ausência de diálogos é irritante. Cenas completamente estáticas e sem nenhuma conversa, é de dar nos nervos e gritar: "Acontece alguma coisa logo, saco!" Os personagens passam minutos olhando para as caras uns dos outros com no máximo duas linhas de texto.


Pelo menos nos últimos 40 minutos de filme alguma coisa acontece. Temos algumas poucas e boas cenas de carros em alta velocidade (finalmente!), e começam os assassinatos. Nesse ponto fiquei realmente impressionado, pois as mortes são brutais, viscerais, sanguinolentas e brilhantemente realistas. Acho que nunca vi nas telas, exceto no Assassino em Mim, mortes tão cruelmente realistas. Em um certo momento uma faca de cozinha é cravada no pescoço de um personagem, e dá pra sentir a resistência da carne sendo penetrada, nada daquelas facadas praticamente instantâneas que estamos acostumados a ver em filmes.


Resumindo, não é um filme pra qualquer um. O selo de Cannes é merecido. Portanto, aos que esperam um filme pipoca, muito cuidado.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

American Pie: O reencontro (nota 5)


Eu sou da geração Amerian Pie. Eu estava passando pelos mesmos ciclos de vida que os amigos Jim, Kevin, Oz, Finch e Stifler na época que seus filmes foram lançados nos cinemas, por isso sempre tive uma grande identificação com os mesmos. Por isso estava bastante curioso para ver o que aconteceria neste reencontro, mesmo tendo muito receio que o filme pudesse ser muito ruim. Se por um lado fica o alívio de não terem estragado o filme, fica não uma decepção, mas sim uma tristeza de se constatar algumas coisas que, assim como os meus cabelos, com o tempo ficaram pra trás. Acreditem, mesmo com bons momentos de risadas, no conjunto da obra esse filme de comédia conseguiu me deixar com um leve sentimento de depressão.


Curiosamente, pouco antes de conferir este filme acabei revendo o primeiro longa de 1999 na tv a cabo. Foi estranho rever e perceber como o estilo de humor desta série envelheceu meio mal, dependendo quase que exclusivamente de baixarias para conseguir fazer rir. Eu esperava que neste novo longa, esse defeito fosse corrigido, mas infelizmente os roteiristas mantiveram exatamente a mesma rotina de humor e lições de vida dos longas anteriores, como se estes personagens estivessem eternamente presos num ciclo eterno repetindo as mesmas situações, dramas e problemas. É como se eles não evoluíssem nunca, e isso que me pegou, pois foi nesse ponto que a minha identificação com o universo de American Pie se desfez completamente, perdendo o vínculo que me ligava à aqueles personagens.


Sei que é muito estranha esta análise que fiz acima, mas sempre acreditei que o cinema, não importa se é de arte ou pipocão, devem despertar no expectador a emoções e sentimentos. E mesmo num filme tão bobo como esse, que deveria ser uma comédia, ele acabou despertando uma grande vontade de rever minha vida até aqui, e felizmente me encontro num momento muito mais feliz do que os personagens de American Pie, por isso o filme acabou me incomodando mais do que divertindo.


Mas calma lá, também não é tudo tão ruim assim. Mesmo dentro desses momentos constrangedores todos, podemos sempre contar com a avacalhadora e genial presença de Stifler. Comicamente falando, ele salva o filme e se destaca como o melhor personagem, com a sua tradicional boca suja e total capacidade de passar dos limites. Alguns outros momentos cômicos não passam de reedições de momentos marcantes dos outros filmes, causando um leve sorriso no expectador mais pela nostalgia do que pela graça da situação. É fato que o estilo de humor não resistiu bem ao tempo, e parecendo bobos perto de outras comédias adolescentes atuais como o ótimo Superbad, por exemplo.


É muito bom reviver os bons momentos passados com os amigos, mas é melhor ainda manter os bons amigos sempre por perto durante toda a vida, para continuar criando novos momentos para serem relembrados no futuro. E esta é uma lição que aparentemente os personagens de Amerian Pie não aprenderam.

Sequestro no Espaço (nota 1)


BOMBA! Já aviso, fiquem longe desta bomba, depois não digam que eu não avisei. Eu já sofri com esta tranqueira para que vocês não tenham que passar pela mesma tortura. O fiapo de “roteiro” é o seguinte, a filha do presidente americano faz uma visita numa prisão que fica na órbita da Terra, só que estoura uma rebelião, e todos os presos escapam e começam a matar todos os funcionários da prisão. Então entra em cena Snow, um anti-herói canastríssimo, que vai até a prisão para salvar a moçoila.

Esta “pérola” não passa de uma cópia fajuta readaptação do cult Fuga de Nova York, de 1981 com Kurt Russel. Um péssimo roteiro cliché, com péssimas atuações, com péssimos personagens caricatos (no mau sentido), com cenas de ação mau dirigidas, e até efeitos especiais já passando do prazo de validade. O único ponto que eu dei na nota vai pela audácia de terem cometido um absurdo no final do filme, quando o mocinho e a mocinha vão escapar da estação em órbita, eles vestem uma armadura de astronauta, e PULAM DE UMA PLATAFORMA, CAINDO PRA BAIXO EM DIREÇÃO À TERRA. E após breves segundos em queda livre, abrem tranquilamente um paraquedas e aterrissam suavemente muito próximos ao lugar que precisavam chegar. (PAUSA PARA APLAUSOS). Chega disso.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Intocáveis (nota 9)

Que grata surpresa foi este filme francês. Num momento de total falta do que ver, procurei no IMDB por uma boa indicação de comédia, e fui pego totalmente desprevenido por esta obra genial que consegue ficar sempre no limite entre o drama e a comédia, resultando numa edificante e contagiante história de mundos que colidem.
E a colisão destes mundos começa quando Philippe, um homem muito rico e tetraplégico que precisa de assistência constante de um acompanhante, vê em Driss, um ex-presidiário de família muito simples, o seu companheiro ideal. A princípio os dois tem um pouco de dificuldade para conviver, mas isso se torna uma incrível amizade. O mais surpreendente foi saber ao final do filme que isso é baseado em fatos reais.
O que mais me surpreendeu foi o fato de, mesmo lidando com um assunto tão delicado, o filme consegue o tempo todo se manter firmemente sobre a tênue linha que faria a história despencar para um dramalhão desnecessário, ou para uma comédia pastelão boba de mau gosto. Em todos os momentos as situações são honestas, e é contagiante ver a alegria de Driss contaminar a todos que trabalham na casa de Philippe, assim como ver Driss amadurecendo com o que aprende com Philippe. Não deixem de conferir esta rara joia do cinema.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (nota 8)

Depois de muito tempo sem publicar nada aqui, devido a falta de tempo e um bloqueio / preguiça de escrever inacreditáveis, somente mesmo o Batman pra me tirar dessa inércia. Se alguém ainda acompanha este blog, peço desculpas pelo longo tempo sem novidades. Mas agora vamos ao que interessa.

Finalmente chegou o momento de conferir a aguardadíssima conclusão da trilogia do morcegão. E que conclusão! Mais uma vez o diretor/escritor Christopher Nolan consegue superar todas as expectativas, e entrega uma brilhante conclusão para a história que se iniciou no excelente Batman Begins. Eu particularmente tinha um pouco de receio do que poderia acontecer nesse filme, e por algumas razões. Pra começar, como superar o filme anterior, o genial Batman - Cavaleiro das Trevas? Como Bane poderia ser um vilão mais marcante do que o Coringa definitivo de Heath Ledger? Como a Mulher Gato se encaixaria dentro desta trama neste universo hiper-realista criado por Nolan de forma convincente?

Felizmente todas estas perguntas tem respostas positivas. O filme é tão bom quanto o seu antecessor, não dá pra dizer que é melhor ou pior, dá pra dizer que é maior. O escopo do filme, a escala, tudo é maior do que tinha sido feito até então. O enredo está muito bom, e empresta situações de diversos quadrinhos do Batman. Temos claras referências as sagas A Queda do Morcego, Terremoto e Terra de Ninguém, e mais do que todas, ao clássico Cavaleiro das Trevas de Frank Miller. E o roteiro consegue amarrar todas estas referências de forma incrivelmente coesa e surpreendente. Quem conhece um pouco o universo do personagem nos quadrinhos consegue ir adivinhando o que irá se desenrolar a seguir, mas a imersão é tanta, que quando a sua suspeita se concretiza, ainda assim o espectador se surpreende e gosta do resultado. E o desenvolvimento da trama é tão bom que as 2:40h de exibição passam num piscar de olhos.
E quanto ao vilão Bane? Pra começar, esqueça o Coringa. Por mais memorável que tenha sido, o personagem não se encaixaria neste filme da forma que ele foi construído. Enquanto o caótico e imprevisível Coringa conseguia dar medo por suas características anarquistas, Bane consegue dar medo pela sua natureza fria, cruel e pela exatidão dos seus planos. A interpretação de Tom Hardy do vilão Bane foi muito acertada e se encaixou perfeitamente dentro do universo hiper realista criado por Nolan. A entonação da sua voz por baixo da máscara é medonha, sem contar que ele está gigante e exala uma aura de ser imbatível em combate corpo a corpo. E o cacete que ele dá no Batman é visceral e doloroso de assistir.
Mas a minha maior preocupação era a Mulher Gato. Pra começar, nunca se referem a ela como a "Mulher Gato". Em breves momentos é possível ler em manchetes de jornais sobre uma ladra referenciada como A Gata (The Cat). E posso dizer com tranquilidade que meus temores não se concretizaram, a versão da Selina Kyle da Anne Hathaway não poderia ser mais acertada. Ela conseguiu transmitir a dualidade característica da personagem, que transita sempre no limite da lei, entre ser uma ladra extremamente habilidosa e ter lampejos de altruísmo.
Só que é muito fácil esquecer que se trata de um filme do Batman quando os coadjuvantes são tão interessantes. E aqui temos mais uma vez Christian Bale entregando um ótimo Bruce Wayne / Batman. É um filme do Batman, não dos vilões dele, e assim como em Batman Begins, temos o herói novamente procurando se reerguer após alguns tombos. A interação entre Bruce Wayne e Alfred (mais uma vez o ótimo Michael Caine) são tensas e dramáticas, e cada frase proferida por Alfred é uma lição de moral.
A adição do personagem de Joseph Gordon-Levitt, o Policial Blake, foi muito bem vinda. O ator que já tinha provado saber lidar muito bem com cenas de ação em A Origem, ganha bastante destaque e interagem muito bem com os outros personagens, seja com Comissário Gordon (novamente Gary Oldman) seja com bruce Wayne.
O resultado de tudo isso é um filme de ação de tirar o fôlego. O filme tem muitos momentos de deixar o espectador boquiaberto, sem acreditar no que está vendo, ou torcendo pelo próximo salto. Muitas vezes me peguei cravando as unhas nos braços da cadeira do cinema, sem conseguir desgrudar os olhos da tela. E pra embalar tudo isso, uma trilha sonora, por vezes entoada num coro gutural que hipnotiza e acrescenta muito bem à tensão das cenas mais fortes.
Este terceiro e último capítulo da série criada por Nolan fecha de forma brilhante a trilogia definitiva do Cavaleiro das Trevas nos cinemas, apagando de vez as atrocidades que foram cometidas com os personagens deste universo anteriormente. Pode ser que existam pequenos defeitos ou furos suaves de roteiro, mas nada disso estraga a experiência completa que a trilogia como um todo proporciona. Nolan criou uma Graphic Novel em live action. Infelizmente, tanto o diretor quanto Christian Bale já afirmaram que não voltam para um quarto filme, mas este filme terminou de modo a deixar um livro aberto para qualquer um continuar deste ponto em diante da forma que melhor imaginar. Eu gostaria muito de ver a continuação deste universo, porém duvido muito que a Warner tenha peito para fazer isso, aposto que irão fazer um reboot e começar tudo de novo com outra equipe criativa. Uma pena se isso mesmo acontecer.
Uma curiosidade meio bizarra: após a atrocidade que ocorreu na estréia do filme nos EUA, muitos ainda estavam com os ânimos exaltados, imaginando que algum maluco poderia querer seguir o mesmo rastro de violência sem sentido. Na sala de cinema que fomos, havia um segurança em tempo integral na porta do cinema. Mas o mais assustador foi que no meio da seção, o alarme de incêndio começou a tocar dentro da nossa sala. Alguns começaram a se levantar e outros ficaram meio assustados sem saber o que fazer, mas felizmente tudo não deve ter passado de um defeito do sistema de alarme.
[ATUALIZADO] Após uma segunda vista do filme, mudei bastante minha opinião a respeito dele. O filme tem vários defeitos e furos de roteiro que são difíceis de relevar. Ainda é um ótimo filme, mas o Cavaleiro das Trevas ainda dá um pau de longe neste. Infelizmente eu escrevi esta crítica assim que saí do cinema, com a empolgação ainda no auge, e isso é errado, tenho que aprender a deixar o filme decantar um pouco antes de escrever estas críticas. Fica aqui a minha retratação.