sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Apenas Uma Vez (nota 10)


É raro um filme me emocionar e me impressionar a ponto de eu ficar por dias pensando nele. Também é raro eu aceitar ver um filme que foge do padrão “cinemão pipoca”, o que sei que é um erro muito grande meu. As vezes, como no caso de Drive, o resultado confirma que não é minha praia tentar ver filmes independentes de circuitos alternativos, mas felizmente existem casos como o de Apenas Uma Vez, um emocionante romance musical irlandês. E isso graças à Ju, que sempre me acusa de escolher filmes ruins, que descobriu esta pérola.


O roteiro é bem simples, e não é o que realmente importa neste filme. Um músico de rua conhece uma imigrante tcheca que também tem habilidades musicais. O relacionamento dos dois floresce com a cooperação de ambos através da música. Estes personagens, que nunca sabemos os nomes, são tão reais, tão carismáticos, que é impossível não nos sentirmos cativados por suas histórias. Quando digo que o roteiro não importa, é que parece que a câmera está simplesmente acompanhando os dois, de forma intimista, deixando que acompanhemos o desenrolar desta complicada relação.


Mas temos que falar do principal personagem do filme, a música. Na essência, o filme é um musical, mas não do tipo Broadway. A música impulsiona o filme para frente, mas por que expressa constantemente os sentimentos dos personagens e contam uma história muito pessoal de cada um. São canções belíssimas, incrivelmente sensíveis e emotivas, e os atores/músicos as interpretam com uma intensidade contagiante, colocando suas almas em cada nota. Quando acaba o filme, cada canção fica grudada na nossa mente, e me peguei cantarolando alguns versos durante dias, e querendo ter a trilha sonora para ouvir mais vezes.


Não foi a toa que uma das excelentes músicas foi a vencedora do Oscar de 2008. E essa emoção toda na interpretação destas músicas não poderia ser diferente, pois os atores principais na verdade são músicos de verdade, e eles próprios compuseram todas as canções que ouvimos no filme. Quem tem Netflix em casa, aproveite para conferir este filme com alma, que infelizmente só estará disponível no sistema até dia 01/09.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

13 Assassinos (nota 8)

Fazia muito tempo que eu estava com vontade de ver um bom filme de samurai. O último que me lembro de ter visto foi o ótimo Zatoichi de 2003. Quando conferi o trailer deste 13 Assassinos, imaginei que minha busca estaria no fim, e não fiquei decepcionado. O longa japonês entrega tudo que é esperado, e com muita qualidade. Desde o tradicional comportamento dos samurais japoneses, com sua honra e devoção ao dever inabalável, até as sangrentas batalhas de espada, tudo isso embalado em um belíssimo ambiente natural, e uma tradicional trilha sonora.

As comparações com o clássico Os 7 Samurais de Akira Kurosawa são inevitáveis. Alguns críticos estão até colocando isso como um demérito, porém eu não acho que estas similaridades sejam ruins, afinal o produto final é muito bom, além de ter um feeling mais atual, apesar de se tratar de um filme de época. O enredo é simples: Shinzaemon Shimada, um samurai honrado e respeitado, é incumbido de uma missão que vai contra os mandamentos do samurai de proteger seu senhor, que é assassinar o cruel Lorde Naritsugu, o degenerado irmão do atual Xogum e próximo na fila para assumir o xogunato. Como legalmente não podem evitar que uma pessoa tão cruel quanto Naritsugu, que mata e mutila seus criados por diversão, chegue ao poder, Shimada é destituído de seu título, e junta outros 12 leais samurais para planejar o assassinato do Lorde.

O ritmo do filme é interessante. Mesmo sendo meio longo, são 2:20h de duração, na primeira hora e meia acompanhamos num passo mais lento toda a preparação para o ataque. Neste momento acompanhamos o modo de vida tradicional japonês, com o sempre respeitoso tratamento entre classes, sejam serventes e lordes, ou mestres e aprendizes. Mas na última hora, prepare-se para muita ação de tirar o fôlego, com direito a muito combate de espadas e muito sangue voando na tela, no melhor estilo tarantinesco. Apesar do tom sério durante boa parte do filme, temos um pequeno alívio cônico com o morador da montanha que se junta ao grupo de assassinos durante sua jornada, e um único momento de bizarrice sexual japonesa.

Gostei muito do filme. Tanto durante o retrato da sociedade tradicional japonesa, quanto durante as empolgantes cenas de ação e combate. Mas saibam que se trata de um filme japonês, que tem seu ritmo e estilo de edição próprio, o que pode desagradar a princípio os que tem mais apego ao cinema americano.

Juan de los Muertos (nota 7)

O que acham de um filme cubano de baixo orçamento que mostra uma invasão de zumbis em Havana? Pode parecer uma receita para o desastre, mas o filme é genialmente engraçado. É uma comédia de humor muito, mas muito deturpado, que cai bem dentro do que me agrada em comédias estranhas. E podem ficar tranquilos, não se trata de uma cópia do genial Shaw of the Dead, brilhante comédia inglesa com o mesmo tema, apesar das similaridades dos nomes. Juan de los Muertos tem uma personalidade toda própria, e nunca achei que eu riria tanto de zumbis, quer dizer dissidentes, atacando um país de terceiro mundo.

O slogan do “negócio” de Juan já resume bem o estilo de humor que permeia todo o filme. Como um bom latino, Juan vê nesta crise uma oportunidade de ganhar dinheiro, e inicia a “Juan dos Mortos, matamos seus entes queridos para você”. As piadas são de vários tipos, desde as mais escrachadas, como quando Juan dança salsa com um zumbi algemado ao próprio braço, passando pelas políticas (durante todo o filme os zumbis são referidos como dissidentes capitalistas imperialistas enviados pelos EUA), chegando nas mais negras, quando pessoas saudáveis são mortas por engano.

Não tem muito mais o que escrever. O filme é totalmente desapegado de qualquer realidade e senso crítico, e faz piada até com a morte iminente de entes queridos. Não é um estilo de humor que pode agradar a qualquer um, mas certamente me agradou muito, e rendeu ótimas risadas em alto e bom volume.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Anjos da Lei (nota 8)


Existem ótimas comédias “sérias” que conseguem divertir muito, como é o exemplo do recente Intocáveis. Existem as comédias “involuntárias”, que são filmes que deveriam ser sérios, mas são tão ruins que só resta dar risada, como é o caso do Sequestro no Espaço, por exemplo. Porém, as melhores comédias, aquelas que o espectador fica com a barriga doendo de tanto rir, são aquelas que sabem não se levar a sério demais, e vão até as últimas consequências mais absurdas para causar risos. Felizmente em Anjos da Lei, uma readaptação do seriado homônimo oitentista, soube não querer ser muito fiel ao tema original, resultando uma das melhores comédias dos últimos anos.


O enredo trata de colocar dois policiais recém formados na academia em um programa de infiltração em colegiais, em busca de pistas sobre distribuição de uma nova droga. Schmidt, o nerd (Jonah Hill, que também assina o roteiro) e Jenko, o atleta (Channing Tatum), que eram colegas de colégio mas como de costume não se davam muito bem, e acabam se tornando amigos durante a academia de polícia e são os escolhidos para essa missão, tendo que fingir serem adolescentes e se readaptar ao colegial. A princípio parece que será mais uma daquelas típicas comédias adolescentes americanas, mas para a grata surpresa de todos, os preconceitos tradicionais do gênero logo são destruídos, atualizando e muito bem a tradicional fauna de colegial americano.


O humor é excelente. Rápido, e em muitas vezes completamente absurdo, com algumas pitadas de vergonha alheia, lembra um amálgama dos bons momentos de comédias como Superbad, Saturday Night Live e The Office. A ótima interação entre os personagens principais é ajuda muito, por exemplo na bizarra cena da primeira prisão a dupla. Os momentos de esporro recheado de palavrões, cortesia do Capitão Dickson (Ice Cube) são geniais. O final do filme se rende ao tiroteio de filmes de ação, mas mesmo assim, as piadas continuam rolando soltas.


Se em um ponto ruim a criticar é que no terço final do filme o ritmo das piadas dá uma boa reduzida, pois o tradicional momento da separação e reconciliação presente em quase todos os filmes também está aqui. Felizmente o final recupera o ritmo. De qualquer forma, vale muito conferir para dar boas risadas.

Uma Manhã Gloriosa (nota 7)


Está aí um exemplo de comédia romântica que consegue fugir um pouco da regra geral deste gênero tão pouco inventivo. Os tradicionais clichés ainda estão presentes, mas estão tão bem disfarçados que quase passam desapercebidos. Já explico um pouco melhor isso. O que importa é que o filme consegue ser muito agradável e leve, um entretenimento fácil e descompromissado, que deve agradar muito aos apreciadores deste gênero. E pra ajudar tem a presença sempre adorável da Rachel McAdams.


Becky Fuller (Rachel McAdams) é uma produtora de um jornal matinal local, uma workaholic, que é contratada com para tentar revitalizar um programa matinal falido em uma grande emissora, o Daybreak. Para isso ela vai ter que lidar com os egos dos âncoras Colloen Peck (Diane Keaton) e o renomado repórter que claramente não quer estar ali, Mike Pomeroy (Harrison Ford, aparentemente interpretando a si próprio). Depois de muito tentar entrar no jogo dos dois, Becky começa a fazer o impossível para aumentar a audiência. As situações cômicas são boas, nada muito forçado, mas também não vai fazer você rolar de rir. Tudo está na medida certa.


Quando escrevi que o filme foge um pouco dos clichés do gênero, é por causa de qual relacionamento é colocado sob o holofote. É claro que existe um interesse romântico para Becky, mas o relacionamento que realmente aflora, se degenera e retorna é entre Becky e Pomeroy, pois o repórter experiente é um tipo de ídolo caído aos olhos de Becky, que o idolatra. O relacionamento discutido no filme não é amoroso, mas é sim profissional e/ou uma amizade. Isso faz o filme se destacar da média e ser notado. Vale a pena ser conferido.


Drive (nota 5)


Com este filme eu cometi um erro que já me prometi que não cometeria de novo. Ver um filme premiado no festival de Cannes. Eu quis arriscar e crer que com este seria diferente, afinal um filme sobre um motorista de fuga, deve pelo menos ter ótimas cenas de ação e perseguição de carros. Mas novamente me arrependi e pra ajudar tive que aguentar a Ju me pentelhando pela escolha. Esse filme entra naquela categoria que até é bom, mas é muito, muito chato.


O grande problema é que o filme começa muito bem. Logo na abertura temos uma cena de fuga, que não é emocionante pela velocidade, mas é uma fuga tática, tensa, com poucos momentos de alta velocidade. Com isso, fiquei imaginando que veria muito mais daquilo deste ponto em diante, mas durante a próxima hora de filme, tudo que vemos é um arrastado e monótono relacionamento do personagem principal com sua vizinha e seu filho. A quase total ausência de diálogos é irritante. Cenas completamente estáticas e sem nenhuma conversa, é de dar nos nervos e gritar: "Acontece alguma coisa logo, saco!" Os personagens passam minutos olhando para as caras uns dos outros com no máximo duas linhas de texto.


Pelo menos nos últimos 40 minutos de filme alguma coisa acontece. Temos algumas poucas e boas cenas de carros em alta velocidade (finalmente!), e começam os assassinatos. Nesse ponto fiquei realmente impressionado, pois as mortes são brutais, viscerais, sanguinolentas e brilhantemente realistas. Acho que nunca vi nas telas, exceto no Assassino em Mim, mortes tão cruelmente realistas. Em um certo momento uma faca de cozinha é cravada no pescoço de um personagem, e dá pra sentir a resistência da carne sendo penetrada, nada daquelas facadas praticamente instantâneas que estamos acostumados a ver em filmes.


Resumindo, não é um filme pra qualquer um. O selo de Cannes é merecido. Portanto, aos que esperam um filme pipoca, muito cuidado.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

American Pie: O reencontro (nota 5)


Eu sou da geração Amerian Pie. Eu estava passando pelos mesmos ciclos de vida que os amigos Jim, Kevin, Oz, Finch e Stifler na época que seus filmes foram lançados nos cinemas, por isso sempre tive uma grande identificação com os mesmos. Por isso estava bastante curioso para ver o que aconteceria neste reencontro, mesmo tendo muito receio que o filme pudesse ser muito ruim. Se por um lado fica o alívio de não terem estragado o filme, fica não uma decepção, mas sim uma tristeza de se constatar algumas coisas que, assim como os meus cabelos, com o tempo ficaram pra trás. Acreditem, mesmo com bons momentos de risadas, no conjunto da obra esse filme de comédia conseguiu me deixar com um leve sentimento de depressão.


Curiosamente, pouco antes de conferir este filme acabei revendo o primeiro longa de 1999 na tv a cabo. Foi estranho rever e perceber como o estilo de humor desta série envelheceu meio mal, dependendo quase que exclusivamente de baixarias para conseguir fazer rir. Eu esperava que neste novo longa, esse defeito fosse corrigido, mas infelizmente os roteiristas mantiveram exatamente a mesma rotina de humor e lições de vida dos longas anteriores, como se estes personagens estivessem eternamente presos num ciclo eterno repetindo as mesmas situações, dramas e problemas. É como se eles não evoluíssem nunca, e isso que me pegou, pois foi nesse ponto que a minha identificação com o universo de American Pie se desfez completamente, perdendo o vínculo que me ligava à aqueles personagens.


Sei que é muito estranha esta análise que fiz acima, mas sempre acreditei que o cinema, não importa se é de arte ou pipocão, devem despertar no expectador a emoções e sentimentos. E mesmo num filme tão bobo como esse, que deveria ser uma comédia, ele acabou despertando uma grande vontade de rever minha vida até aqui, e felizmente me encontro num momento muito mais feliz do que os personagens de American Pie, por isso o filme acabou me incomodando mais do que divertindo.


Mas calma lá, também não é tudo tão ruim assim. Mesmo dentro desses momentos constrangedores todos, podemos sempre contar com a avacalhadora e genial presença de Stifler. Comicamente falando, ele salva o filme e se destaca como o melhor personagem, com a sua tradicional boca suja e total capacidade de passar dos limites. Alguns outros momentos cômicos não passam de reedições de momentos marcantes dos outros filmes, causando um leve sorriso no expectador mais pela nostalgia do que pela graça da situação. É fato que o estilo de humor não resistiu bem ao tempo, e parecendo bobos perto de outras comédias adolescentes atuais como o ótimo Superbad, por exemplo.


É muito bom reviver os bons momentos passados com os amigos, mas é melhor ainda manter os bons amigos sempre por perto durante toda a vida, para continuar criando novos momentos para serem relembrados no futuro. E esta é uma lição que aparentemente os personagens de Amerian Pie não aprenderam.

Sequestro no Espaço (nota 1)


BOMBA! Já aviso, fiquem longe desta bomba, depois não digam que eu não avisei. Eu já sofri com esta tranqueira para que vocês não tenham que passar pela mesma tortura. O fiapo de “roteiro” é o seguinte, a filha do presidente americano faz uma visita numa prisão que fica na órbita da Terra, só que estoura uma rebelião, e todos os presos escapam e começam a matar todos os funcionários da prisão. Então entra em cena Snow, um anti-herói canastríssimo, que vai até a prisão para salvar a moçoila.

Esta “pérola” não passa de uma cópia fajuta readaptação do cult Fuga de Nova York, de 1981 com Kurt Russel. Um péssimo roteiro cliché, com péssimas atuações, com péssimos personagens caricatos (no mau sentido), com cenas de ação mau dirigidas, e até efeitos especiais já passando do prazo de validade. O único ponto que eu dei na nota vai pela audácia de terem cometido um absurdo no final do filme, quando o mocinho e a mocinha vão escapar da estação em órbita, eles vestem uma armadura de astronauta, e PULAM DE UMA PLATAFORMA, CAINDO PRA BAIXO EM DIREÇÃO À TERRA. E após breves segundos em queda livre, abrem tranquilamente um paraquedas e aterrissam suavemente muito próximos ao lugar que precisavam chegar. (PAUSA PARA APLAUSOS). Chega disso.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Intocáveis (nota 9)

Que grata surpresa foi este filme francês. Num momento de total falta do que ver, procurei no IMDB por uma boa indicação de comédia, e fui pego totalmente desprevenido por esta obra genial que consegue ficar sempre no limite entre o drama e a comédia, resultando numa edificante e contagiante história de mundos que colidem.
E a colisão destes mundos começa quando Philippe, um homem muito rico e tetraplégico que precisa de assistência constante de um acompanhante, vê em Driss, um ex-presidiário de família muito simples, o seu companheiro ideal. A princípio os dois tem um pouco de dificuldade para conviver, mas isso se torna uma incrível amizade. O mais surpreendente foi saber ao final do filme que isso é baseado em fatos reais.
O que mais me surpreendeu foi o fato de, mesmo lidando com um assunto tão delicado, o filme consegue o tempo todo se manter firmemente sobre a tênue linha que faria a história despencar para um dramalhão desnecessário, ou para uma comédia pastelão boba de mau gosto. Em todos os momentos as situações são honestas, e é contagiante ver a alegria de Driss contaminar a todos que trabalham na casa de Philippe, assim como ver Driss amadurecendo com o que aprende com Philippe. Não deixem de conferir esta rara joia do cinema.