segunda-feira, 28 de maio de 2012

2 Coelhos (nota 9)

É muito raro eu me interessar por filmes brasileiros. Para aqueles que acompanham este blog isso é bem fácil de se notar. Mas não é nenhum tipo de preconceito com o cinema nacional, é que simplesmente as produções feitas por aqui não me atraem em absolutamente nada. Posso estar generalizando demais, mas estou realmente farto de filmes em favelas ou que se pareçam com uma novela da globo. É claro que filmes realmente bons, como os espetaculares Cidade de Deus, Tropa de Elite e Tropa de Elite 2, foram conferidos e merecidamente elogiados por mim, pois a estrutura do filme, o roteiro e tudo mais tornaram esses filmes atraentes ao meu gosto particular. E foi justamente este gosto particular que fez meus olhos brilharem quando vi o trailer de 2 Coelhos, me dando muita vontade de conferir esta produção. E finalmente aparece um filme brasileiro que, mesmo copiando outras referências hollywoodianas (e copiando muito bem por sinal) tenta algo diferente e divertido.
E onde está a chave para ter se tornado um filme tão interessante? É fácil explicar, e vamos começar pela mais básica e mais importante peça de um filme: o roteiro. Com uma trama muito interessante, cheia de reviravoltas e trapaças, alianças improváveis e planos mirabolantes, o roteiro conta uma história que lembra muito os bons filmes do diretor inglês Guy Ritchie (de Snatch e Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumengantes). Existem sim alguns momentos meio improváveis que podem ser considerados furos de roteiro, mas nada que estrague a experiência, pois mantém o interesse constante e a cada "plot twist", explode a cabeça do espectador.
Em segundo lugar, podemos destacar o visual do filme. Muito arrojado, rápido e videoclíptico, lembra também alguns momentos dos filmes de Zach Sneider e de Guy Ritchie, usando bastante de câmeras lentas (nos momentos certos, sem abuso), devaneios bizarros em mundos estranhos, e muitas paradas para colocar o nome do personagem na tela. As cenas de ação foram muito bem filmadas, assim como os inúmeros tiroteios que ocorrem. Em especial, cito uma ótima cena, muito bem montada, onde a câmera passeia pelo quarto, atravessando o cano da arma de um personagem, passando por trás deste mesmo quarto para mostrar a emboscada, somente para sair pelo cano de outra arma, acompanhando o primeiro tiro que precede a saraivada de chumbo. Novamente, nada extremamente original, mas muito bem executado e encaixado com o restante do filme. Em cima de tudo isso, a montagem não-linear do filme (influência direta de Quentin Tarantino) fecha o pacote visual para contar uma história excelente.
Em terceiro, podemos destacar os personagens. Não vou ficar descrevendo um a um, pois posso sem querer entregar um spoiler que pode arruinar a surpresa daqueles que pretendem conferir o longa. Mas posso dizer que todos os personagens são ótimos, sendo fácil o público sentir empatia ou ódio por eles. E a dualidade que existe em todos, nos faz mudar de opinião o tempo todo conforme o enredo vai se desenrolando. E isso se aplica a todos, sejam os "heróis" Edgar e Walter, a desejada Julia ou o ótimo vilão Maicom. Até mesmo os capangas de Maicom são divertidos, proporcionando algumas das cenas mais engraçadas, num humor negro típico novamente dos filmes de Guy Ritchie. A escolha dos atores para viverem estes papéis foi muito inspirada, estão todos ótimos e caíram como uma luva nestes papéis. E pra embalar tudo isso, uma ótima trilha sonora, compostas por músicas estrangeiras e nacionais (prepare-se para ouvir muito Titãs).
O trailer já tinha me surpreendido, mas não sabia o que esperar do filme dirigido e escrito por Afonso Poyart. Ao conferir a obra, fiquei ainda mais impressionado com o resultado final. Pode ser acusado de copiar um estilo americano (ou inglês), mas isso não é obrigatoriamente uma coisa ruim. Eu considero que foi algo muito corajoso e que precisa ser feito para levar mais pessoas aos cinemas para conferir o cinema nacional. Não entendo o motivo de não serem produzidos filmes de gênero no Brasil. Se Espanha, México, Japão e Coréia conseguem produzir ótimos filmes de terror por exemplo, por que o Brasil não pode se arriscar também nesse gênero, e se mantém fazendo sempre as mesmas coisas? Se for para eu escolher entre ver mais um dramalhão de favela ou um filme de ação que imita o Guy Ritchie, com certeza eu escolho o que imita Guy Ritchie.


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