Depois de muito tempo sem publicar nada aqui, devido a falta de tempo e um bloqueio / preguiça de escrever inacreditáveis, somente mesmo o Batman pra me tirar dessa inércia. Se alguém ainda acompanha este blog, peço desculpas pelo longo tempo sem novidades. Mas agora vamos ao que interessa.
Finalmente chegou o momento de conferir a aguardadíssima conclusão da trilogia do morcegão. E que conclusão! Mais uma vez o diretor/escritor Christopher Nolan consegue superar todas as expectativas, e entrega uma brilhante conclusão para a história que se iniciou no excelente Batman Begins. Eu particularmente tinha um pouco de receio do que poderia acontecer nesse filme, e por algumas razões. Pra começar, como superar o filme anterior, o genial Batman - Cavaleiro das Trevas? Como Bane poderia ser um vilão mais marcante do que o Coringa definitivo de Heath Ledger? Como a Mulher Gato se encaixaria dentro desta trama neste universo hiper-realista criado por Nolan de forma convincente?
Felizmente todas estas perguntas tem respostas positivas. O filme é tão bom quanto o seu antecessor, não dá pra dizer que é melhor ou pior, dá pra dizer que é maior. O escopo do filme, a escala, tudo é maior do que tinha sido feito até então. O enredo está muito bom, e empresta situações de diversos quadrinhos do Batman. Temos claras referências as sagas A Queda do Morcego, Terremoto e Terra de Ninguém, e mais do que todas, ao clássico Cavaleiro das Trevas de Frank Miller. E o roteiro consegue amarrar todas estas referências de forma incrivelmente coesa e surpreendente. Quem conhece um pouco o universo do personagem nos quadrinhos consegue ir adivinhando o que irá se desenrolar a seguir, mas a imersão é tanta, que quando a sua suspeita se concretiza, ainda assim o espectador se surpreende e gosta do resultado. E o desenvolvimento da trama é tão bom que as 2:40h de exibição passam num piscar de olhos.
E quanto ao vilão Bane? Pra começar, esqueça o Coringa. Por mais memorável que tenha sido, o personagem não se encaixaria neste filme da forma que ele foi construído. Enquanto o caótico e imprevisível Coringa conseguia dar medo por suas características anarquistas, Bane consegue dar medo pela sua natureza fria, cruel e pela exatidão dos seus planos. A interpretação de Tom Hardy do vilão Bane foi muito acertada e se encaixou perfeitamente dentro do universo hiper realista criado por Nolan. A entonação da sua voz por baixo da máscara é medonha, sem contar que ele está gigante e exala uma aura de ser imbatível em combate corpo a corpo. E o cacete que ele dá no Batman é visceral e doloroso de assistir.
Mas a minha maior preocupação era a Mulher Gato. Pra começar, nunca se referem a ela como a "Mulher Gato". Em breves momentos é possível ler em manchetes de jornais sobre uma ladra referenciada como A Gata (The Cat). E posso dizer com tranquilidade que meus temores não se concretizaram, a versão da Selina Kyle da Anne Hathaway não poderia ser mais acertada. Ela conseguiu transmitir a dualidade característica da personagem, que transita sempre no limite da lei, entre ser uma ladra extremamente habilidosa e ter lampejos de altruísmo.
Só que é muito fácil esquecer que se trata de um filme do Batman quando os coadjuvantes são tão interessantes. E aqui temos mais uma vez Christian Bale entregando um ótimo Bruce Wayne / Batman. É um filme do Batman, não dos vilões dele, e assim como em Batman Begins, temos o herói novamente procurando se reerguer após alguns tombos. A interação entre Bruce Wayne e Alfred (mais uma vez o ótimo Michael Caine) são tensas e dramáticas, e cada frase proferida por Alfred é uma lição de moral.
A adição do personagem de Joseph Gordon-Levitt, o Policial Blake, foi muito bem vinda. O ator que já tinha provado saber lidar muito bem com cenas de ação em A Origem, ganha bastante destaque e interagem muito bem com os outros personagens, seja com Comissário Gordon (novamente Gary Oldman) seja com bruce Wayne.
O resultado de tudo isso é um filme de ação de tirar o fôlego. O filme tem muitos momentos de deixar o espectador boquiaberto, sem acreditar no que está vendo, ou torcendo pelo próximo salto. Muitas vezes me peguei cravando as unhas nos braços da cadeira do cinema, sem conseguir desgrudar os olhos da tela. E pra embalar tudo isso, uma trilha sonora, por vezes entoada num coro gutural que hipnotiza e acrescenta muito bem à tensão das cenas mais fortes.
Este terceiro e último capítulo da série criada por Nolan fecha de forma brilhante a trilogia definitiva do Cavaleiro das Trevas nos cinemas, apagando de vez as atrocidades que foram cometidas com os personagens deste universo anteriormente. Pode ser que existam pequenos defeitos ou furos suaves de roteiro, mas nada disso estraga a experiência completa que a trilogia como um todo proporciona. Nolan criou uma Graphic Novel em live action. Infelizmente, tanto o diretor quanto Christian Bale já afirmaram que não voltam para um quarto filme, mas este filme terminou de modo a deixar um livro aberto para qualquer um continuar deste ponto em diante da forma que melhor imaginar. Eu gostaria muito de ver a continuação deste universo, porém duvido muito que a Warner tenha peito para fazer isso, aposto que irão fazer um reboot e começar tudo de novo com outra equipe criativa. Uma pena se isso mesmo acontecer.
Uma curiosidade meio bizarra: após a atrocidade que ocorreu na estréia do filme nos EUA, muitos ainda estavam com os ânimos exaltados, imaginando que algum maluco poderia querer seguir o mesmo rastro de violência sem sentido. Na sala de cinema que fomos, havia um segurança em tempo integral na porta do cinema. Mas o mais assustador foi que no meio da seção, o alarme de incêndio começou a tocar dentro da nossa sala. Alguns começaram a se levantar e outros ficaram meio assustados sem saber o que fazer, mas felizmente tudo não deve ter passado de um defeito do sistema de alarme.
[ATUALIZADO] Após uma segunda vista do filme, mudei bastante minha opinião a respeito dele. O filme tem vários defeitos e furos de roteiro que são difíceis de relevar. Ainda é um ótimo filme, mas o Cavaleiro das Trevas ainda dá um pau de longe neste. Infelizmente eu escrevi esta crítica assim que saí do cinema, com a empolgação ainda no auge, e isso é errado, tenho que aprender a deixar o filme decantar um pouco antes de escrever estas críticas. Fica aqui a minha retratação.