Expectativa é uma coisa muito complicada de se lidar. Enquanto a experiência de se ver um filme quase bom, mas sobre o qual você não tem nenhuma expectativa, pode ser satisfatória. Porém quando se trata de um filme muito aguardado, mas que apesar de ser bom, não atinge o nível de qualidade esperado, pode resultar numa experiência que deixa um gosto mais amargo do que normalmente deixaria um filme realmente ruim. Infelizmente foi o que aconteceu comigo neste Prometheus, aguardadíssimo retorno do diretor Ridley Scott à ficção científica no prelúdio de uma das minhas séries de filmes favoritas, Alien.
E os que acompanham este blog, sabem que este era o filme que eu mais queria ver neste ano, e a quase decepção ainda me deixam com um sentimento conflitante sobre este longa. É um bom filme, é uma boa ficção científica, mas não é a experiência cinematográfica que parecia melhor no trailer, muito menos é digna do nome do diretor que foi responsável por outras obras eternas da ficção como Alien e Blade Runner. Uma parte da culpa entendo ser do próprio diretor, que se rendeu a pressões de estúdio para se adaptar à manias modernas de deixar finais abertos para continuações, e explicar demais cenas que não precisam de mais explicações. A outra parte da culpa é do roteiro, que deixa cenas ótimas, cheias de tensão e carga emocional sem uma finalização adequada, e continua como se nada tivesse acontecido. O melhor exemplo disso é a ótima cena do "aborto", que termina sem nenhuma consequência. Uma pena.
Mas calma, nem tudo é de se jogar fora, afinal ainda se trata de um filme muito interessante. O tema principal do enredo é muito bom, e é muito bem desenvolvido até a metade do filme. Falando nisso, a primeira metade é a melhor parte do filme, onde somos apresentados aos motivos que fizeram a tripulação da nave Prometheus viajar para tão longe de casa. E esse motivo é a tentativa de encontrar seres alienígenas que visitaram a terra no passado, e teoricamente poderiam ser os responsáveis pela criação da raça humana. Nessa lua distante, o grupo de pesquisa, financiado pela empresa Weyland, encontram ruínas misteriosas e vestígios de acontecimentos ainda mais misteriosos, que aguçam a curiosidade do espectador.
Já a segunda metade do filme abre mais espaço para os sustos e as mortes nojentas, marca registrada da série. O clima escuro, tenso e claustrofóbico continua excelente como de costume, o design da nave assim como das ruínas alienígenas são ao mesmo tempo novas e muito similares, trazendo aquele sentimento de nostalgia ao ver de volta na tela um ambiente conhecido. E falando nisso, a hora que a sala do Space Jockey reaparece pela primeira vez é de arrepiar qualquer fã da série.
Infelizmente os personagens não são tão bons quanto os do longa original. Noomi Rapace, no papel de Elizabeth Shaw, papel principal que seria a Ripley da vez, não chega aos pés de Sigourney Weaver e sua Ripley. Outros papeis que deveriam ser mais importantes como a Vickers de Charlize Theron, ou mesmo o capitão da nave, Janek de Idris Elba, tem pouquíssimos bons momentos. Se não fosse a presença de Michael Fassbender numa interpretação fantástica do androide David, o filme teria ainda mais problemas. Por sinal, o início do filme que mostra David sozinho na nave é incrivelmente parecido com 2001, e até mesmo a voz do comutador da nave lembra HAL 9000.
Como eu escrevi mais acima, ainda estou em conflito com este filme. Eu queria muito ter gostado mais dele do que eu efetivamente gostei. Queria muito chegar aqui e escrever milhares de elogios, dar uma nota 10 e dizer que é o melhor filme do ano, mas apesar de ainda ser um bom filme, os defeitos me incomodaram demais, estragando bastante a experiência. É sim uma ótima ficção científica que merece muito ser conferida por todos que gostam do gênero ou que são fãs dos filmes anteriores, e podem ter certeza que teremos alguma continuação num futuro próximo.
Nota 1- Pude conferir o filme em 3D na sala IMAX do Shop. Bourbon. Depois de Avatar, é o primeiro filme que realmente vale a pena ser conferido em 3D. Está muito lindo, com ótima utilização de diversos planos de profundidade inteligentes e relevantes, e sem ficarem jogando objetos na cara do espectador.
Nota 2- Nos créditos de abertura, as cenas de vôo são incrivelmente parecidas com o brinquedo SOARIN do parque EPCOT da Disney em Orlando.
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